sexta-feira, 15 de maio de 2009

Terra – um pequeno pedaço de chão

matéria publicada na revista Terceira Civilização, Edição Nº 489, pág. 28, maio de 2009.

Ensaio: Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho, secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo.

Em 2009, a Prefeitura de São Paulo acolheu na entrada principal de sua sede a exposição “Gandhi, King, Ikeda — Pelo Ideal do Humanismo”.
Quem percorreu, como eu, todos os painéis — que retratam anos de esforços destes gigantes da cultura de paz — não deixaria de ficar intimidado ao comentar sobre a Proposta de Paz, enviada anualmente por Daisaku Ikeda, presidente da SGI, à direção da Organização das Nações Unidas (ONU). Faço-o, no entanto, encorajado por um conceito do próprio movimento da SGI: uma ação local que gera contribuição global, mesmo que pareça pequena.

O homem parece ser um fenômeno de evolução da vida neste planeta minúsculo e perdido no Universo. Aqui, três forças se encontram: a força selvagem/bárbara da selva, a força da humanidade e a força do divino.

Ao longo de milhões de anos, esta tríplice aliança pendeu de um polo a outro com predomínio ora de uma força, ora de outra.

Quando saímos das savanas africanas para o primeiro movimento de globalização, espalhando a espécie por todos os continentes, a componente bárbara era dominante. A lei da selva, do mais forte, predominava em nosso comportamento, quase uma necessidade de sobrevivência entre outros seres tão selvagens quanto o homem.

Aos poucos, as forças do ser humano e o sopro do divino foram equilibrando as energias aparentemente indomáveis do selvagem.

A força humana criou um tipo de vida na Terra. Tipo este que tem consciência de si mesmo e, milagre, tem consciência da existência do universo dele próprio.

Tão presente nesta transição, quase física, material, a força divina, tencionava o selvagem e o humano levando-os a um equilíbrio superior.

O predomínio do divino é fenômeno raro. Ele gera santos, profetas, pessoas iluminadas que se doam totalmente e sinalizam caminhos que duram por milhares de anos. O cruel é que o divino, sem levar em conta o barro do qual somos feitos, pode tornar-se paradoxalmente selvagem, desumano.

O humano é a nossa criação propriamente dita. É o caminho do meio do homem.
Daisaku Ikeda impressiona pelo seu esforço permanente de fundir Oriente e Ocidente. Impressiona por sua fidelidade aos tesouros do Oriente e pelo conhecimento enciclopédico da aventura intelectual ocidental.

É assim neste texto. A crítica do existencialista francês Gabriel Marcel ao “espírito de abstração”, que coloca alguns sistemas de ideias criadas pelo homem como uma forma de opressão e escravidão dos próprios homens, é contrastada pela inspiradora ideia da “competição humanitária” desenvolvida pelo educador com os pés no chão e o coração na mão, Tsunessaburo Makiguti.

O “espírito de abstração” pode-se transvestir de ideologias religiosas, intolerantes e absolutistas ou de ideologias aparentemente laicas, mas que se comportam tão absolutistas quanto as mais absolutistas das religiões. Foi o drama do “socialismo científico”, que desligado do humano evoluiu para uma liga metálica do selvagem com o divino. Crucifique-se o homem comum no presente para que o paraíso desça do céu para a Terra.

Veja, leitor, por outro lado, o sentido humano de Makiguti, que via “as realidades de vastas extensões da Terra... num pequeno pedaço de chão... de uma simples vila de uma região isolada”. De nada servem os sistemas complexos ideológicos se não ajudarem ao ser humano a viver bem no “pequeno pedaço de chão”. A amizade, o amor entre os vizinhos como base para o amor entre os “vizinhos” de terras distantes das nossas, mas tão perto quando se sabe da pequenez da Terra.

É com esta visão local e global que Daisaku Ikeda incansavelmente oferece propostas de paz, dirigidas à ONU — a mais importante organização humana já construída.
Dois mil e nove nos encontra submersos em duas crises — uma, conjuntural econômica; outra, estrutural ambiental, cuja síntese é o aquecimento do planeta.

Na contramão desses problemas, as propostas de Daisaku são concretas como gostaria Makiguti.
Em relação ao aquecimento global, está a Agência Internacional de Energia Renovável e a Parceria Internacional para a Cooperação em Eficiência Energética. Isso porque a essência da crise ambiental é nossa forma de viver, conviver, produzir, consumir, sendo insustentável do ponto de vista energético. A energia limpa é a chave para quebrar o impasse. O farol que ilumina os caminhos de superação do desastre.

O Banco Mundial de Alimentos trata do núcleo da injustiça mundial da extrema desigualdade entre os mais ricos dos ricos e os mais pobres dos pobres — a fome. São 963 milhões de desnutridos, quando nosso desenvolvimento tecnológico já permite, há muitos anos, que esta escravidão vergonhosa estivesse abolida.
A Convenção sobre Armas Nucleares é um esforço concentrado das nações em superar este símbolo da cultura da violência — as armas nucleares — por uma progressiva hegemonia da cultura de paz nas relações entre nações.

Por fim, Daisaku Ikeda não esquece o seu mantra de fortalecimento da ONU — tão criticada pelas suas insuficiências — porém nunca suficientemente exaltada pelas suas virtudes de potencial casa comum do ser humano da Terra.

É um chamado para chegarmos a 2010, ano do 80º aniversário da Soka Gakkai e do 35º aniversário da SGI.

Exposição humanista em São Paulo

No dia 2 de fevereiro deste ano, foi inaugurada, no saguão da Prefeitura de São Paulo, a exposição “Gandhi, King, Ikeda — Pelo Ideal do Humanismo”.

A cerimônia de abertura contou com a participação de várias autoridades do município. Entre elas estava o prefeito Gilberto Kassab e o secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge Sobrinho.

Durante 45 dias, os paulistanos apreciaram as obras e a trajetória de vida de Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr. e Daisaku Ikeda. A mostra já percorreu 21 países. No Brasil, passou por Campinas, São Paulo (SP) e Campo Grande (MS), evidenciando quanto são necessárias ações para promover a paz em todo o mundo.

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